NUM MUNDO POLARIZADO, o gênero humano se dividiu em macho e fêmea, masculino e feminino, homem e mulher. Imagem e semelhança de um deus que apesar de ser Deus, foi feito pelos cristãos, macho. Mas se a Ele foi consagrada a criação metafísica, cósmica, à mulher foi consagrada a criação telúrica. E o mundo inventou a Mãe: criatura de sentimentos incondicionais. O patriarcado inventou a Esposa, a de doação irrestrita, suprida, mantida e ordenada pelo Marido. O Capitalismo invent ou a operária, a de dedicação ilimitada, de dupla jornada. O machismo criou as bonecas – infláveis, ou não –, a de prazeres escondidos. A arte inventou estátuas, versos, canções, cores. A solidão criou o vazio dos antidepressivos e das academias de ginástica. Das senzalas para os shoppings. Da cozinha para a presidência. Da camarinha para o espaço sideral. Das esquinas sombrias para a luz do mundo. Marys, Simones, Célias, Nancys, Seylas, Judiths e Márcias ajudaram a transformar Amélias em mulheres de verdade. Mas...